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Imagens: Letícia Maria

Edição de arte: Dayara Freire

O começo de tudo

o começo de tudo: pega a visão

Texto: Giulia Marini/ Rodrigo Bussula

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O Funk se tornou a batida do povo no mundo inteiro. Desde os anos 2000, o estilo já é um dos mais tocados na maior plataforma de streaming de músicas, o Spotify. Se liga, o próprio aplicativo indicou que os gringos estão ouvindo as playlists de funk quase 4% a mais desde 2018.


Aqui no Brasil o pancadão cresce a cada ano. A Outdoor Brasil, uma empresa especializada em comunicação para a classe popular, mostrou que as 10 maiores favelas do Brasil, espalhadas entre São Paulo e Rio de Janeiro, devem ostentar uns R$ 7 bilhões até o final do ano com a economia produzida pelos bailes.

Só que o caminho para o sucesso do ritmo foi longo. Essa jornada começa na década de 1970, no Rio. Os primeiros bailes, ao contrário do que muitos pensam, não aconteceram nas periferias, mas sim na zona sul, área nobre da cidade.

Com o crescimento da MPB e do uso do Canecão, uma casa noturna com pista e palco onde aconteciam as apresentações, os shows considerados “Bailes da Pesada” passaram a fazer parte do subúrbio, da quebrada carioca por causa das batidas, da dança e das letras polêmicas.

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Em 1989, Fernando Luis Mattos da Matta, figura que viria a ser conhecida como Dj Marlboro, introduziu o TCHU TCHA TCHA da batida eletrônica no gênero, com um disco daora chamado “Funk Brasil”. Pronto, ali nasceu a batida que prevalece nos funks mais tops até hoje. O ritmo que traz aquele grave e te faz sentir vontade de dançar, às vezes mesmo sem você perceber, começou a ganhar forma.

Ganhando popularidade no meio carioca, o funk começou a se espalhar. Em 1994, a imprensa começou a dar mais atenção, até porque a Rainha dos Baixinhos convidou o Dj pra mostrar as músicas em rede nacional no Xuxa PARK HITS. Muito louco, né? Foi a popularização de um movimento que, até então, era produzido na periferia para a periferia. 

Aí já viu! O estilo foi para as areias de São Paulo em 2008. De início na baixada santista e depois subiu a serra até a capital: o funk ostentação. Em 2011, os MCs rimavam carros de luxo, dinheiro e até as roupas de grife. Um ano depois, um cara que veio da favela do Guarujá viria a ser o maior produtor do mundo do funk com a Kondzilla, que levou a batida até você.


O tempo passou e com isso o ritmo se popularizou. O funk, que era amador em suas produções e na administração, começou a se profissionalizar e se tornou lucrativo. E como tudo que gera lucro, o estilo acabou descendo das favelas e ganhou as ruas do norte ao sul e do leste ao oeste.

O principal ponto para a aceitação desse estilo nas comunidades foi a representatividade que os MC’s trouxeram, em uma espécie de um grito de “se eles podem ter, eu também posso”. Mas irmão, isso não é tudo, tá ligado? Cola com a gente, e pega a visão do tamanho dessa história. Deixa os B.O. de lado, curte essa vibe e Segue o Baile.

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Ludmilla e Anitta - Favela Chegou - DVD
A história do funk

A história do funk

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Esboço Seta para baixo
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esboço Seta
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Esboço Seta para baixo
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James Brown
MC Guime

Fotos: Internet/ Texto: Giulia Marini/ Rodrigo Bussula

GÊNEROS DE FUNK

Nas favelas, ostentar se tornou um ato de revolução. Afinal, não é por que se é favelado que não se pode exaltar suas conquistas, vindas com muito suor, claro. Em meados de 2009 e 2010, alguns Mc’s trouxeram isso para as letras. Por isso, entrevistamos MC Boy do Charmes e Léo da Baixada, dois que ajudaram a criar um dos maiores movimentos dentro do funk: o ostentação. Dá o play e confere um pouco mais sobre o que estou falando.

Reportagem: Dayara Freire, Giulia Requejo e Rodrigo Bussula

Edição: Giulia Requejo/ Locução: Rodrigo Bussula

Joga o ombrinho e solta o quadril que o brega funk chegou. E olha, estou para te dizer que ele veio para ficar. Originário de Pernambuco, o ritmo ganhou notoriedade com seus passinhos e o swing envolvente. Hit Contagiante, Pagou de Superada, Só o básico e outros hits ganharam o Brasil e o mundo. Quer saber um pouco mais sobre o assunto, né? Então dá o play.

Reportagem: Dayara Freire, Giulia Requejo e Rodrigo Bussula

Edição: Giulia Requejo/ Locução: Rodrigo Bussula

Sexo explícito. É isso que falam as letras que os Mc’s de funk putaria escrevem. Algumas pessoas se recusam a ouvir, já que o assunto é um tabu na sociedade, outras têm a playlist recheada desse estilo. Apesar de todo o preconceito expressado pela maioria das pessoas, a Mc Carol e o Mc Gomes acham o funk putaria, muito mais do que apenas um ritmo musical. Ouça agora mais um episódio da série “Gêneros do Funk”.

Reportagem: Camila Falcão, Camilla Thethê e Giulia Marini

Edição: Dayara Freire/ Locução: Rodrigo Bussula

O estilo consciente persiste desde o início até a nova geração do funk. Como diferencial, ele aborda os problemas sociais de quem vive na periferia e ensina que o crime não compensa. Pegamos a visão de Djay W e MC bola, alguns dos principais nomes do estilo, que conhecem bem essa realidade. Ouça agora o quarto episódio da série “Gêneros do Funk”. 

Reportagem: Letícia Maria, Tamara Sanches e Giulia Marini

Edição: Rodrigo Bussula/ Locução: Rodrigo Bussula

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O funk nasceu no Rio e isso você já sabe. Agora, sabia que em 2019 ele está comemorando 30 anos? Entre muito sucesso, repressão e polêmicas, o funk carioca entra em um novo momento. Dessa vez, o ritmo está no 150 bpm (batidas por minuto) para desafiar todas as pessoas da pista a dançar de jeito. Ouça agora o último episódio da série “Gêneros do Funk”:

Reportagem: Letícia Maria, Tamara Sanches e Giulia Marini

Edição: Rodrigo Bussula/ Locução: Rodrigo Bussula

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Gêneros de funk

Entre a superação e o sonho

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Choveu no Jardim Regina. Por ser um morro, as ruas não alagam, mas algumas casas sim. Uma delas é a de um menino franzino, de nome Guilherme, mais conhecido em sua quebrada como MC GuiGui.
 

Pega o rodo no banheiro, leva até a área e puxa a água pra não alagar tudo. Logo a água, sinônimo de limpeza e purificação, ali naquele lugar trazia outro sentido.
 

Não era nada puro. Era perreco, era trampo, era dor. Um retrato da luta de uma família, de um menino que, até então, sonhava em ser jogador de futebol para dar uma condição melhor para sua família. Como a água que escorre pelo buraco, a relação entre a mãe e o pai do pequeno Guilherme se esvaiu nessa mesma época.
 

Oito anos. Essa foi a idade em que a ficha caiu para Guilherme. O pai foi embora e não havia nada que ele pudesse fazer. Mostrar força era agora a sua cara. "Eu estou bem", virou um mantra. Mesmo novo, o garoto sentiu que deveria assumir um papel que estava vazio: o de homem da casa.
 

Com toda a responsabilidade que caiu em seus ombros, o lado criança, que tentava ficar escondido, acabava vindo à tona. O sentimento de não ter o pai nos pequenos momentos era difícil, além de motivo de comparação com outras crianças. Não se tinha um parceiro para levar até a quadra, alguém que pudesse conversar sobre as namoradas na escola, bater papo sobre o time do coração. Essa figura não existia e isso doeu.


“Na separação, eu agi do jeito que sempre agi, só que triste, né. Porque é ruim ver seus amigos com pais juntos à família reunida dentro de casa, e você não! Os desafios não eram poucos. Chega a ser difícil decifrar o que se passava na cabeça de uma criança que, de tão nova e rodeada pelos problemas cotidianos de morar em uma favela, já exibia algumas cicatrizes internas.


Quebrado, sem muita grana comparado com os boy, a vida foi e lhe pregou peças. O dinheiro era curto. Ir para a escola era um saco, ainda mais por que não havia tênis de marca para exibir, camisetas de grife. A roupa da moda, definitivamente, não cabia no corpo de Guilherme. Não pelas medidas, mas sim pelo preço colocado nas etiquetas. Afinal, um prato de comida ou uma blusa simples para passar o inverno era mais importante que um Nike do momento.
 

Tênis rasgado com o dedão à mostra, camisetas simples, sorriso humilde e gestos tímidos. Atitudes de bom coração, sempre. Onde estava o Guilherme, se via isso. As pessoas brincavam com a condição do menino, mas ele nunca ligou. Em sua cabeça, não existia motivos para isso. “Muitas vezes já cheguei na escola com o tênis rasgado, aparecendo o dedão. Não vou falar que tive uma infância sofrida, porque muita gente teve uma infância pior que   a minha, só que não foi um mar de rosas também. É foda você ir pra escola com o tênis rasgado, seus amigos tudo olhando e zoando, você querer uma chuteira e não ter pra jogar bola”.
 

O relógio girou e muita coisa não mudou, uma delas foi a paixão pelo futebol. Bom de bola desde menino, GuiGui se destacava nos confrontos da Vila. Desenvolveu o talento na dor. Sem chuteira ou quadras com estrutura, o pé descalço
e o chão de concreto da quadra do Regina moldaram um futebol livre e solto, como odo brasileiro gosta.

 

Convites para jogar aqui e ali chegaram a rodo. A ideia de ganhar a vida correndo atrás de uma bola que pudesse ser a forma de seu sustento foi ganhando força. Com um plano bem elaborado, tudo já estava esquematizado: virar jogador e ajudar quem o ajudou. Pronto, agora só faltava dar certo. Tentativas não faltaram. Era sobe e desce morro. Vai e vem de quadra. Pede carona, treina. Suor, cansaço. No fim, volta para casa e no dia seguinte tudo começa de novo.
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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A rotina cansava. Muitas vezes faltava a moeda para ir para os jogos ou até para os treinos. Dinheiro não é um problema, mas sim a solução, já diz o ditado. Nessa situação dinheiro era um problema, mas sem solução no horizonte. O jeito foi trabalhar. Futebol não tinha virado nada até ali e a responsabilidade martelava, batia forte que, em certo ponto, até machucava. Matou o b.o. no peito e ‘novão’ saiu para trabalhar.
 

O primeiro emprego foi em um lugar não tão bonito. Lá não tinha computadores ou se trabalhava de traje esporte fino e social. Ao contrário, os funcionários usavam roupas de pano velho, quase aos trapos. Suas ferramentas de trabalho eram instrumentos de limpeza, como buchas, sabão e panos. “Lá vai Guilherme”, alguns vizinhos comentavam. Novo, com 12 para 13 anos, já dava um gás no lava rápido do bairro.
 

O horário no trabalho respeitava o da escola. Mas aí, a correria era grande. Sai da escola, atravessa a avenida como se isso dependesse da vida. Sobe escadão, dá um salve nos conhecidos e corre pra casa. Comida, prato, duas colheradas e pronto. Já sobe na magrela e desce a rua pra começar o expediente. Tem muito adulto que não aguentaria esse veneno todo, mas GuiGui segurou a bucha, literalmente.


Para distrair, o menino soltava a voz, que nem galo ao amanhecer. O ritmo preferido era o funk. Felipe Boladão, Menor do Chapa e alguns outros Mc's de funk consciente. Entre um carro e outro o talento foi sendo lapidado, e a água que antes foi motivo de preocupação, agora criava um ambiente para um talento se desabrochar.

Pega a bucha, molha no balde e esfrega. Esquerda e direita, uma vez. Esquerda e direita, outra vez. Limpa o suor na testa e volta para o trampo. Era assim sempre. O salário? Ah, esse era R$ 10,00 por dia. Parece pouco, mas para o pequeno menino
era uma quantia gigantesca. Agora mais velho, e após refletir, GuiGui viu que desde cedo já pegava firme no batente.

 

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“Eu fiquei 1 ano e pouco, quando saí de lá já ganhava 20 reais, mas no começo era 10. Mas mesmo assim, 20 era muito pouco pro trampo que é. Mesmo assim eu saía felizasso, parecia que tinha ganhado o mundo. Eu ia juntando os 10, mas quando chegava nos 50 eu torrava tudo, comendo, ia na ferinha e comprava um tênis daora que eu queria, porque nesse trampo não podia ajudar muito minha mãe, ela não podia me dar as roupas daora, então eu ia e dava o trampo pra comprar os baguio que eu gostava, camisa, tênis... pra economizar um pouco o dinheiro dela.”
 

O lava rápido serviu de aprendizado. O talento começou a ser lapidado como uma pedra bruta que pouco a pouco se tornava uma obra de arte. Obra essa que era a cara do funk: uma pessoa humilde de família pobre que sonha com uma melhora.
 

Os primeiros passos como compositor foram dados ainda na escola. Após a morte de uma amiga, a primeira música do agora MC GuiGui do Jr nascia. Em um grito de dor pela perda de uma amiga querida, nasceu uma das letras mais bonitas do jovem cantor até então.
 

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Trabalho, trabalho e mais trabalho. O sonho era alimentado todos os dias, a todo instante. No começo era tudo sem muita estrutura. Nem Dj o jovem MC tinha. Palco pequeno, nem água havia para beber. Lá vai Guilherme, pega a garrafinha que levou para o rolê, vai na torneira do banheiro, enche e dá um gole. Enche de novo e vai para o palco.
 

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Tudo isso era longe de casa. Poucas pessoas viam o show, só os amigos de verdade o acompanhavam. E faz o corre, aluga van, vende ingresso e vai. Alguns desistiriam, mas ele não. Não havia essa opção. Essa palavra não existia em seu vocabulário. Nessa mesma época, o pai, antes distante, se aproximou. Foi e é um dos principais
apoiadores do sonho do filho. Viu talento, desde cedo, em sua criança. Cuidou e
lapidou. Deu apoio e ainda dá. Isso o deixou mais próximo de Guilherme. Até uma tatuagem do filho o homem fez.

 

Claro, era Guilherme no palco, fazendo o que ama. Realizando seu sonho. Agora, aquele momento, aquele sonho, não estava somente eternizado no coração do MC, mas também no braço direito de seu pai.
 

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A roda girou mais uma vez. Mais velho, maduro e já tendo passado poucas e boas no mundo do funk, Guigui ficou cascudo. Bom, a essa altura do campeonato o sonho de um mulek já começava a ser levado a sério por quem convive ao seu redor. Isso não veio da noite para o dia. Show a show, atitude por atitude. A cada instante, Guilherme ia provando para cada um que era capaz e que, hora ou outra, ia realizar o seu sonho.
 

Esse sonho não era nada gigantesco. Nada inalcançável, pelo menos para ele. O brilho no olho ao falar sobre as metas para o futuro era algo tocante. Havia sinceridade, pureza, mas também dor pelo caminho traçado até aqui. Dentro disso, uma característica é a mais forte: humildade ao agir. Talvez seja pela fé que tem em Deus ou por tudo que passou, mas quem vê Guilherme encontra uma pessoa serena consigo mesmo, sonhadora e bondosa para com os outros.


Hora ou outra Guigui vai estourar. O microfone estará em suas mãos, a multidão irá gritar o seu nome. O MC será visto como exemplo, se já não é mesmo sem todo o glamour que o sucesso trás.
 

Esse é um dos sonhos, viver do funk, com o funk e para o funk. Nem uma arma na cabeça tira isso de dentro dele. Tá grudado, tatuado. Ninguém tira.
 

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Fotos: Rodrigo Bussula/ Texto: Rodrigo Bussula

Entre a superação e o sonho

Mulheres no funk

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Se você acha que não existe feminismo dentro do funk, cê tá brisando! As letras cheias de palavrão tem um significado muito grande para essas mina. Elas encontraram uma maneira de representar as mulheres nesse meio e não foi fácil viu? Nós conversamos com Renata Prado, que é frequentadora raiz dos bailes funk de São Paulo. Tudo que ela sabe sobre o ritmo aprendeu com 13 anos e por paixão passou a ser diretora da Frente Nacional de Funk, que é uma organização que trabalha em prol do protagonismo das mulheres dentro do cenário cultural da periferia. O objetivo delas é combater o machismo que reflete fortemente no comportamento dos homens da massa funkeira. E não poderíamos falar sobre o feminismo nesse ritmo sem a Mc Carol né?! Ela também contou a história dela para nós. Até por depressão ela passou, não é à toa que o funk salvou a vida dela. E para terminar, Daniela Rocha Agostini, fotógrafa documental. Com pouco conhecimento sobre o mundo do funk, ela se jogou nesse mundo e contou um pouco sobre como coletivo feminista Doroteia, do qual ela faz parte, se engajou no mundo do funk a ponto de fazer um documentário sobre isso. Vem escutar o papo reto das mana!

Atenção: 

 O áudio a seguir contém palavrões e conteúdo sexual explícito

Texto: Camila Falcão/ Giulia Marini

Edição: Leonardo Engelmann

Mulheres no funk

Deixa ela dançar

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Batida do funk combina com dançar, rebolar a bunda e se divertir. A modelo Laís Leal, por exemplo, tem o sonho de ser conhecida e o ritmo é a abertura para isso. Ela saiu de Aparecida do Taboado, no Mato Grosso do Sul, largou tudo e começou a fazer clipes de funk. Já a professora de dança Renata Prado quis ir além - foi atrás de pessoas que queriam conhecer o movimento. Com isso, criou o projeto Academia do Funk em que dá aulas e tem uma parte teórica que ela explicar suas experiências como moradora da periferia de São Paulo e frequentadora dos bailes. Pensando nisso, o Segue o Baile procurou saber como é a vida dessas mulheres por trás das câmeras de clipes cheios de carros, bebidas, piscina, mansões, favela, armas, festas e até mesmo um fundo branco. Pega a visão e Deixa Ela Dançar!

Texto: Letícia Maria 

Deixa ela dançar

Helipa LGBT+: O baile da representatividade

Tenho só dois anos de idade e sou cheio de histórias para contar. Tudo começou através de um aniversário de um dos amigos do meu fundador. Eles haviam se conhecido em uma de suas noites badaladas na Rua Augusta. No começo, eu tinha sete criadores, mas agora só um deles restou. Matheus Belle, gay assumido há dois anos, me fez pela primeira vez aos 17 anos de idade. Hoje, aos 19, continua fazendo várias versões de mim.

O aniversário do amigo de Matheus teve grupo no Whatsapp para ser organizado da melhor maneira. Ele colocou cerca de duzentas pessoas no grupo para poderem se programar. Mal sabia ele que eu iria crescer tanto e tomar e chegar bem longe.

Era um sábado à noite do ano de 2017, final de outubro, quando tudo começou. Lotei a rua inteira. Conseguiram me fazer bombar sem muita dificuldade. Com um simples grupo no Whatsapp, o maior evento da vida deles havia acabado de começar.

A Zona Leste de São Paulo tem quase 5 milhões de habitantes e uma renda média de R$ 4.500. Eu nasci no bairro de Itaquera, justamente na ZL. Logo depois desse aniversário, que foi um sucesso, um dos integrantes do grupo do Whatsapp teve a brilhante ideia de me tornar oficial, e isso tudo foi abraçado por sete amigos. Como todos faziam parte da comunidade LGBT+, eu não poderia ser mais colorido.

A inspiração para me criar veio do preconceito que todos os meus fundadores e seus amigos sofrem diante de uma sociedade tão homofóbica. Tenho orgulho de dizer que cresci de uma vontade incontrolável que eles tinham de fazer parte de algo que sempre mereceram.

Minha primeira edição oficial foi em novembro de 2017. Foi incrível e só deu mais força de vontade para que meus criadores continuassem a fazer várias edições. O cansaço por serem excluídos fez com que eu me tornasse um Porto Seguro para a comunidade LGBT+ e, assim, nenhum tipo de preconceito é perdoado aqui.

Sabe, eu fui criado com o intuito de rodar o país inteiro. Por enquanto estou em São Paulo, mas meu fundador principal está me expandindo para o interior do estado, Rio de Janeiro e quer me fazer chegar ao resto do Brasil. Não sou só uma festa, sou uma manifestação, sou um coletivo. Não faço só as pessoas beberem e ouvirem música. Eu as faço felizes, as protejo e sou a esperança para a comunidade LGBT+ por uma sociedade mais justa.

Eu já nasci quebrando paradigmas. Os jovens sabem que Helipa é a referência ao baile funk que acontece na favela do Heliópolis e, por isso mesmo, me chamo assim. O que seria mais afrontoso e fora do padrão do que colocar o nome de um fluxo hétero e acrescentar a sigla LGBT+? O meu impacto já começa aí. As mudanças que meus pais buscam, e o espaço social que eles merecem, vêm de uma manifestação não só quando eles me organizam, mas também com o nome que me deram.

Quando falam baile funk, sei que o único estilo de música que vem na cabeça que poderia ser tocado lá é o funk, óbvio. Mas eu não sou só colorido, eu também sou eclético. As músicas que tocam em meu ambiente vão desde o sertanejo até o funk. A minha única limitação com os djs é que são proibidas as músicas preconceituosas e machistas. Inclusive, só são chamados para tocar aqui os djs que fazem parte da comunidade LGBT+. Mas assim, caro leitor, se você está a fim de dançar um axé, ouvir um pop e descer até o chão eu sou o seu lugar!

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Eu reúno todos os tipos de pessoas, todo tipo de crença, sexualidade, raça. As mulheres são o meu segundo maior publico tirando a comunidade LGBT+. Várias vezes eu as ouvi falando o quanto se sentem bem e seguras ao vir aqui, pois já sofreram muitos abusos e machismo nos bailes héteros.

É lindo ver que sou usado para a felicidade dos outros. As pessoas vem dançar, sorrir, encontrar velhos amigos, dar uns beijinhos e até conhecer o crush. Famílias também são bem-vindas aqui e muito bem recebidas.

 

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Mesmo sendo muito novo, estou ganhando bastante espaço por São Paulo. Desde o ano passado, tenho feito parte da Virada Cultural. Sou convidado pela Prefeitura de São Paulo para a manifestação periférica do funk e, por isso, faço parte da lista. Além disso, tenho meu próprio bloco de carnaval.

Eu não vim para brincadeira. Nasci para fazer bem a comunidade LGBT+ e a todos que se sentem acolhidos pelo nosso movimento. Aqui só cabe o amor ao próximo, sem rótulos, sem preconceitos e sem maldade. Somos todos iguais e temos o direito de amar quem  e como quisermos, e o meu objetivo é dar espaço para todos.

O pessoal aqui do Segue o Baile foram ao meu evento no dia 10 de novembro de 2019 lá em São Matheus em um sítio que eu já apareci outras vezes nesse ano e em anos passados. A festa, mesmo com chuva, foi realizada e aproveitada da mesma maneira.

Com uma área de piscina, meus convidados conseguiram aproveitar bastante as minhas músicas e meu espaço. Havia até mesmo um lugar para narguilés, onde quem gosta pode fumar a vontade. O paredão também esteve presente nessa edição, que são várias caixas de som além de grandes, tem a frequência bem alta para deixar o pancadão animado.

 
Nesse dia, a equipe de reportagem pôde ver cara a cara a influência e representatividade que eu tenho. Pessoas a vontade, divertindo-se, rolou solto. Deu para reparar na liberdade que o pessoal que me frequenta sente ao estar comigo.

 

Eu nasci em bairro periférico, em pleno século 21, que infelizmente ainda há muito preconceito e que a comunidade LGBT+ ainda assim é vista como um tabu. Em época de meninos usam azul e meninas usam rosa, o meu nascimento e crescimento é essencial.
 

Texto: Camilla Thethê / Fotos: Dayara Freire/ Videos e sonora: Letícia Maria 

Comunidade LGBT+ no funk

O baile funk Helipa LGBT+ completou dois anos em 2019. Criado para dar espaço para a comunidade LGBT+, ocorre vários eventos no decorrer do ano, como, por exemplo, em sítios em São Matheus, bailes na rua com autorização da prefeitura de São Paulo, blocos de carnaval e assim por diante. 

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Tudo começou com um grupo de sete amigos que se conheceram em suas  badaladas noites na Rua Augusta, centro de São Paulo. Cansados de sofrer discriminação e preconceito da sociedade, criaram um lugar seguro para que todos pudessem dançar e curtir sem sofrer qualquer tipo de preconceito. 

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O movimento tomou grandes proporções e hoje em dia é considerado o único baile funk da comunidade LGBT+. Ao conversarmos com um dos organizadores do baile, foi nítida a sua emoção ao dizer que o Helipa LGBT+ é necessário para a comunidade homossexual, pois assim eles têm espaço em uma sociedade tão preconceituosa. “Helipa não é só festa, é um movimento, é um coletivo. Também merecemos nosso espaço e merecemos nos sentir seguros”, afirma Matheus Belle, um dos sete amigos que deu inicio a esse projeto. 

As fotos abaixo são de uma das edições do Helipa LGBT+. O baile ocorreu no domingo, 10 de novembro em um sítio com piscina em São Matheus, zona leste de São Paulo.

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Texto: Camilla Thethê

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Texto: Letícia Maria/ Arte: Naomi Iria

Helipa LGBT+: O baile da representatividade

Qual o rolê de hoje?

Não dá pra falar de funk sem falar dos bailes. Só em São Paulo tem baile em tudo que é canto. Pensando em facilitar sua vida e você não ficar sem rolê, listamos os cinco principais bailes paulistas pra curtir com os parças. 

Se liga: na Zona Sul, o Baile da Dz7 fica na favela de Paraisópolis e é o mais famoso de todos. Deve ser por reunir a galera de quinta à domingo todas as semanas ou talvez por não ter hora pra acabar! Também na Zona Sul, o Baile do Helipa é O baile de favela (já dizia a música do Mc João). Ele tem oito anos de fluxo e promete muita curtição. 

Se você vai em direção à Zona Norte, dá pra colar no Baile da Marcone (alô, Mc João!) e no 12 do Cinga. Nesses dois, só quem acompanha as redes sociais consegue descobrir quando tem o próximo, mas a gente pode te ajudar! Segura aí.

Por último, mas não menos importante, a Nitropoint de Mauá, região metropolitana, surgiu em 2003 e ficou tão grande que não fica mais só no ABC paulista. Da hora, né?

Pronto! Agora que já te apresentamos os bailões, preparamos esse mapa para não ter erro de onde você pode colar.

Texto: Camila Falcão/ Letícia Maria

Qual o rolê de hoje?
Quanto ruído o baile alcança?

Quanto ruído o baile alcança?

Um baile funk é conhecido pela movimentação de pessoas, pelos batidões e pela zoeira. Toda essa aglomeração de gente tem um custo para frequentadores e vizinhos: o som alto, rolando durante horas, pode interferir na audição das pessoas. É o que explica a médica otorrinolaringologista Vivian La Falce. “O máximo aconselhável é até 70 decibéis”, que equivale ao som de aspirador de pó!” 

 

O conselho para quem está exposto a ambientes com muito barulho, segundo ela, é usar aparelho de proteção individual, seja dentro do tímpano, ou do  fica por fora da orelha. Mas, para não ter lesão, o mais recomendado é se afastar de tanto barulho.

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Em outubro de 2019 visitamos o Baile da 17 (ou DZ7 para os mais chegados), que fica em Paraisópolis, Zona Sul de São Paulo, para te mostrar o que acontece durante todo esse pancadão. Se liga!

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Comunidade LGBT+
Ele é top

Ele é top

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Da Baixada Santista pro mundo, Wallace Santos Ramos, conhecido como MC Bola, nunca negou suas origens. O cantor começou no samba, por incentivo da família, mas não demorou muito para os batidões encantarem os ouvidos dele. Dono dos hits “Ela é top” e “soltinha”, Bola embalou mundo afora, fazendo turnês pela Europa e América Latina. Com 20 anos de carreira e 40 shows por mês, o Mc afirma que ainda tem muitos bailes para percorrer, mas que vai louvar a Deus sempre que puder. Cola com a gente pra entender essa história um pouco melhor.

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Segue o Baile. Por que “Bola”?

MC Bola. O Nenê, que é um tio de criação, sempre me chamou de Bola, porque eu sempre fui gordinho e neguinho. Bola, bola, bola, ficou nome artístico e eu não tirei.


SB. Do samba pro funk. Como foi essa transição?
 

MCB. A minha vó, na época de radio novela, nos anos 80, teve uma dupla (de samba) com a amiga Cilene, e (o amor pelo samba) foi chegando até a geração dos meus tios que fundaram um grupo de pagode em Santos chamado Ginga Brasileira. Eu acompanhava eles, sempre fui muito curioso, então gostava de estar nos bastidores e estúdios. En entrou o funk na minha vida, no final dos anos 90, porque tem uma rádio em Santos chamada Cultura Fm, e tinha o programa TOP FUNK Cultura, e eu passei a ouvir Jorginho e Daniel, Fred e Andrezinho, e sonhava em cantar funk, mas nunca sonhei em chegar onde cheguei hoje.


SB. Impossível falar de MC Bola sem falar de “Ela é top”. O que essa música representa para você?
 

MCB. Eu costumo dizer que “Ela é top” é meu RG. Existia o Mc Bola 13 anos antes de Ela é top, eu tenho 20 anos de carreira, mas era regional. Essa música me jogou para o Brasil e para boa parte do mundo. As minhas turnês na Europa ou na América do Sul, se não cantar Ela é top, não é o Mc Bola.

 

SB. Qual a história por trás de “ela é top”?


MCB. Eu estava começando a flertar com uma menina que hoje é a minha esposa. Ela trabalhava com a mãe dela e tinha um espelho muito grande no lugar, ela tirava foto nele e postava no Facebook. Não sei se vocês lembram, teve o lance das ações, então falava-se muito em Facebook. Deus me deu a benção e eu tirei o lance certeiro. Por isso falam que a minha mulher é a musa inspiradora, ela é também.

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SB. Quem é sua maior inspiração?
 

MCB.  O Catra. Ele é meu irmão, só não está presente na minha vida fisicamente. Eu já era fã dele quando ele cantava consciente, e já ia nos shows na baixada. Tive o prazer de conhece-lo em 2012 e pintou a oportunidade de gravar uma música. De lá pra cá a gente era unha e carne. Eu não sei se foi bom ou ruim pra mim, porque Deus sabe de todas as coisa, mas nos últimos dias do Catra, foi quando eu estive mais próximo dele. Em um dia, acabei dando uma passada para visita-lo na casa dele. nessa época, ele já estava no estado inconsciente. Toda vez que nos víamos, ele falava com aquela voz rouca dele "E AÍ BOLAAA", e caia na gargalhada. Dessa vez, ele me olhou e falou bem sereno /'E aí bolaaa" e riu. Depois de cinco dias, ele veio a falecer. Eu acho que ele não esperava que eu fosse ver ele. Po, a família dele é enorme, e ele não esperava que a nossa amizade era tão grande para que eu fosse visita-lo. O Catra vai estar sempre presente na minha vida. Esse ano eu gravo meu DVD de 20 anos e eu quero fazer uma homenagem para ele, porque é um cara que mudou meu patamar na música. 

 

SB. O que mudou no funk nos últimos anos? 


MCB. Ah, mudou muita coisa. Eu comecei cantando consciente, fui inserido nesse mercado do funk melody com o pop, que eu faço até hoje, mas o consciente está voltando com muita força. Hoje até a parte de grana mudou muito. A gente cantava com cachê de 50 reais, hoje em dia a molecada começa a cantar, estoura uma música no Youtube, o cachê vai lá em cima.

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SG. Como você lida com as críticas?


MCB. Eu já passei diversos tipos de preconceito, de tudo o que você possa imaginar. No começo eu era mais vulnerável, eu ficava triste.Tem muitos comentários no youtube, depois do lance da internet, Acabam te ofendendo, ofendendo tua família. Hoje eu estou mais descolado em relação a isso. Eu acho que se aquilo te faz mal, é melhor nem ver.


SB. O que esperar do Mc Bola?
 

MCB. Muita coisa nova, casa nova, vida nova. To aprendendo muito com a minha entrada na GR6, porque eu já sou um jovem senhor, estou com 37 anos. Eu sei que eu tenho muito a passar para a molecada, mas eu tenho muito o que aprender com essa molecada. Molecada no bom sentido. Quem achou que o MC Bola bateu no teto, a gente vai passar do teto, porque minha carreira tem muito a crescer ainda.


SB. Qual mensagem você tenta passar com a sua música?
 

MCB. A minha principal mensagem é passar alegria e eu vou pegar o gancho da minha música nova, positividade, eu sempre fui um cara muito positivo. Hoje a minha maior missão é através do funk, em toda oportunidade que eu tiver, louvar o nome do senhor, porque sem Deus a gente não é nada. 

MC Bola- Ela é top

Fotos: Dayara Freire/ Entrevista: Giulia Requejo/ Tamara Sanches

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O preço do Funk

Da favela para o asfalto, ainda que o funk seja rodeado de preconceitos, não dá para negar que ele é um movimento cultural consolidado. Os batidões invadem os rolês de ponta a ponta do Brasil e, para que a ostentação seja uma realidade, os fluxos precisam de grana. 

A lei de Incentivo à Cultura foi criada para ajudar os projetos culturais a conseguirem verba. Através dela, o governo libera uma quantidade de dinheiro a partir de um pedido feito pela organização do evento. No momento em que o valor é liberado, as organizações vão atrás de empresas patrocinadoras, que se financiarem o rolê pagam menos impostos.

 

Por meio da Lei de Acesso à Informação, que permite que qualquer pessoa veja os gastos do governo, conseguimos os dados dos financiamentos feitos por produtoras de Funk, Rock e Pagode. Nos últimos 10 anos, o Funk teve 12 projetos aprovados, enquanto o rock e o pagode tiveram 13 cada um. Entretanto, todos os rolês de funk juntos gastaram quase 2 milhões de reais a mais que todos os projetos os outros dois.

 

Segundo Ricardo Aparecido Madeira, ex cantor de funk e atual produtor artístico, o maior motivo do alto valor dado às produtoras de funk, são os fãs mesmo. “ Quem sustenta o funk é o público, senão os contratantes não vão ter dinheiro para pagar o cachê do artista. Existe o preconceito, mas até quem tem preconceito está curtindo, então tem muita hipocrisia”. 

 

Uma das marcas do funk é a ostentação. O estilo começou na baixada santista, em São Paulo, e tem como características roupas de marcas, cordões de ouro, carros e motos de luxo, além de grandes mansões. O $cifrão$ está sempre presente em todas os momentos. Através dos dados repassados pelo governo, da para notar que as produtoras de funk usaram verbas maiores em seus eventos e produções musicais, sendo quase dois milhões a mais. Além disso, mesmo com todo o preconceito em cima do funk, houve apenas a diferença de um projeto a menos aprovado, comparado com o rock e o pagode.  

 

Mesmo que o rock e o pagode sejam estilos musicais mais aceitos pela sociedade, o funk também é muito consumido e respeitado, principalmente pelas empresas financiadoras. Então, segue o baile e vamos curtir o rolê.

Edição de video: Dayara Freire/ Texto: Giulia Requejo/ Camilla Thethê

O preço do funk
Um sonho de periferia
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Um sonho de periferia

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É o último telefone que eu bato hoje. Juro que se eu receber mais um “não” eu vou perder a linha. Não, eu não sou um cara raivoso e infeliz com tudo, é só um trabalho ingrato que tem um horário péssimo e não paga tão bem para me tirar do Heliópolis e dar uma vida de rainha para minha mãe. 

São exatas 2h30 da manhã e eu estou saindo do trampo agora. Enquanto espero o busão, coloco os fones de ouvido e o capuz tentando me esconder do vento gelado de São Paulo. A moça do meu lado segura a bolsa forte contra o peito como se a qualquer momento eu fosse puxar e sair correndo. Pra mim isso não é nenhuma novidade. Eu não sei se são as roupas largas ou a cara de cansado, mas as pessoas têm medo de mim. Não participo desse hobby, tá ligado? mas é frequentemente essa reação. 

Finalmente o ônibus chega e é o tempo de descansar 20 minutos até descer no ponto. Chegando na minha quebrada, já está tudo escuro e pra fora só tem os perdidos que não conseguiram um trabalho honesto. Uns vendendo papelote daqui, outros cobrando dívida dali. Eu comprimento mas não dou confiança não, um olhar torto já é mal interpretado, sabe como é né...periferia. 

Depois de bater perna por um tempo, começo a sentir o pancadão e o bololo das motos vibrando no meu peito, o cansaço do dia até passa. É meu baile. Toda sexta a rua perto da minha casa fica lotada de pessoas de todos os tipos, com roupas de diferentes marcas, óculos espelhados extremamente colorido e guarda chuvas balançando no ritmo da batida. 

Eu resolvi parar e tomar uma breja gelada. Eu mereço. Encostei na parede e o primeiro gole já foi mais daora do que a minha semana inteira. Cantarolei todos os funks que passavam e prestei muita atenção nas letras. O povo acha que é feia a letra, mal sabem eles que é tudo reflexo do que o povo da comunidade passa. Os caras não ficam chapados porque querem, saca? a vida é dura e a cabeça do pessoal é fraca, mano. No fundo ele não gosta também, mas quando vê já foi. 

Eu e meu irmão mesmo tentamos ser Mc, criamos uns funks consciente que contavam nossa realidade. Não viralizou, nenhuma produtora deixou o nosso sonho crescer. Ainda. O funk salvou ele, depois que começou a escrever as letras e eu ajudei com a batida ele abandonou a vida do crime.

As cores do paredão começaram a 

embaralhar a minha vista e me deixar tonto, ai eu entendi que era hora de dizer até logo pro Baile do Helipa e ir para casa. Minha mãe deixou comida, mas o cansaço ganhou e eu fui direto pra cama. Deitei a cabeça no travesseiro e orei para que amanhã fosse um dia melhor. É como diz a letra do meu irmão “Eu vou na fé, com humildade eu vou conseguir. Os humilhados serão exaltados, eu to na luta e não vou desistir”. Hoje atendente de telemarketing, amanhã talvez Mc. 

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Texto: Giulia Marini

Texto: Giulia Marini

​As gírias da quebrada

Mano, ‘cê já reparou no jeito que fala? Tipo, o jeito que a gente diz é conhecido como linguagem coloquial. Junto com isso, estão as gírias, tá ligado? Se liga, o coordenador do curso de Letras da Universidade Metodista de São Paulo, Silvio Pereira, deu o papo: “a gíria é uma linguagem de grupo. Ela pode ser considerada uma variação linguística específica destinada à comunicação entre determinadas categorias sociais para que melhor se comuniquem ou para que outros não entendam”.

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Ainda ficou por fora e tá moscando? Conheça alguns tipos de gíria:

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Texto: Camila Falcão/ Letícia Maria

As gírias da quebrada

Playlist

E aí, curtiu o nosso trabalho? Aposto que agora bateu aquela vontade de ouvir um pancadão, não é? Mas não se preocupe, porque pensamos em tudo e preparamos uma playlist recheada de hits do funk para você ouvir, dançar e aproveitar o melhor desse ritmo cultural tão contagiante. Espero que ‘cê goste e segue o baile!

Texto: Dayara Freire

Playlist

Conheça nossa equipe

Camila Falcão
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Salve galera! Meu nome é Camila Falcão e eu tenho 20 anos. A minha vivência com o funk começou despercebida, quando os primeiros hits do Furacão 2000 apareceram. Antes de fazer esse trabalho, não tinha percebido que cada momento da minha vida foi marcado com uma música de funk. Por toda essa presença do ritmo entre povo brasileiro é preciso conhecer esse movimento cultural a fundo. Espero que tenha curtido o role!

Camilla Thethê
WhatsApp Image 2019-11-12 at 10.51.46 AM

E aí! Como cê tá? Me chamo Camilla Thethê e tenho 21 anos. Escuto funk desde mais nova, sempre escondido dos meus pais. Já ouvia funk consciente e putaria. Comecei a prestar mais atenção na cultura do funk quando ouvi a música ‘O baile não vai morrer - forfun’. Aí me fez pensar mesmo, e começar a entender que é acima de tudo, um rito cultural. Totalmente necessário na nossa sociedade. Espero que um dia seja tão aceito quanto os outros estilos musicais.

Dayara Freire
WhatsApp Image 2019-11-12 at 2.30.37 PM.

E aí, beleza? Meu nome é Dayara Freire, sou estudante de jornalismo e apaixonada por música. O funk entrou na minha vida quando criança, por influência do meu irmão mais velho, que sempre gostou de ouvir Mc Daleste. Com o passar dos anos, era quase impossível não ouvir esse gênero contagiante e não sentir vontade de cantar e dançar e acabei me rendendo a esse ritmo cultural que é tão popular no nosso país e, como uma boa brasileira, não há como ficar parada quando toca “Tchu tcha tcha tchu". E aí, bora se render também?

Giulia Marini
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WhatsApp Image 2019-11-12 at 12.32.17 PM
Giulia Marini
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E ai, beleza? Meu nome é Giulia Marini, tenho 20 anos e sou de Santos - SP. Minha história com o funk começou quando eu ainda era uma criança. Eu e minha mãe ficávamos rebolando e fazendo coreografias no meio da sala de TV, lá de casa, com todos os tipos de funk, tá ligado? Isso nunca foi um tabu para ninguém da minha família. Ainda bem, porque meu desejo é que o trabalho faça cada um entender o tamanho da importância que esse ritmo tem para a cultura brasileira.

Giulia Requejo
WhatsApp Image 2019-11-14 at 11.49.39 AM

​E aí, como cê ta?! Meu nome é Giulia Requejo, tenho 20 anos e sou estudante de jornalismo. O funk entrou na minha vida quando eu ainda era criança. Os hits "glamurosa" e "cerol na mão" tocavam sempre que eu me juntava com as minhas primas. Em cada fase da minha vida eu fui acompanhando as novas batidas e rebolados, aproveitando cada uma delas. Esse projeto teve o intuito de mostrar que o funk é muito mais do que se ouve, é cultura! Mas aí, bora curtir?

Letícia Maria
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WhatsApp Image 2019-11-14 at 5.32.53 PM.

Salve, família! Bom, eu não nasci no funk. Ele apenas me encontrou... Nos conhecemos em alguma festa com meus amigos e, desde então, ele não falta em uma (e muito menos nas minhas playlists). Principalmente com o Segue o Baile, aprendi o que está por trás de tanta ostentação, putaria e polêmica. E você, aprendeu junto? ;)

Tamara Sanches
WhatsApp Image 2019-11-12 at 5.24.35 PM.

Cresci em Mauá e na periferia e posso dizer que o funk faz parte da minha história. Fazendo esse trabalho, tive a oportunidade de aprender mais sobre o ritmo como cultura, além de conhecer MC’s que já estiveram na minha playlist do dia a dia. Um dos meus objetivos como jornalista é continuar participando de experiências incríveis como essa. Segue o baile!

Rodrigo Bussula
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​Me chamo Rodrigo e tenho 23 anos. Nasci e cresci no bairro Ferrazópolis, periferia de São Bernardo do Campo. No lugar onde moro o contato com o funk para mim foi natural. Não havia meio termo, todos escutavam, seguiam o estilo. Fui um deles. Então, para mim, foi algo especial poder trabalhar sobre esse assunto na vida acadêmica, entrevistando até alguns amigos e explorando um pouco mais dessa cultura periférica. É isso, segue o baile, irmão.

Sobre nós
Direção de arte/ direção técnica: Camilla Thethê e Dayara Freire
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                      Universidade Metodista de São Paulo
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